quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Feminismo em marcha construindo um mundo novo!

Por: Thaís Lapa*


Este 25 de novembro, dia de combate à violência contra a mulher, teve um ar diferente. Aconteceu inserido em um contexto no qual a luta feminista está fervendo no país – e quem ainda não percebeu, bom abrir os olhos. As mulheres vêm tomando as ruas e as redes sociais pelo direito a uma vida sem violência, contra as ameaças de retirada de seus direitos duramente conquistados e por sua ampliação. Estão dizendo com todo vigor quem são seus inimigos abertos (Eduardo Cunha, Geraldo Alckmin e outros) e também trazendo à tona práticas machistas de seus “amigos ocultos”. Estão colocando em evidência o que o feminismo sempre foi: uma luta incontornável para quem quer mudar radicalmente (pela raiz) a sociedade. As contradições estão explodindo, as mulheres estão indignadas, dizendo “basta”! É um desabrochar para muitas, que se somam e dão energias à continuidade das lutas feministas historicamente acumuladas, conformando uma primavera de resistências e reivindicações na qual mulheres estão na linha de frente.
Mas se a indignação incontida das mulheres tem se evidenciado de um lado, de outro, persiste para grande parte da população a naturalização do machismo. Portanto, desnaturalizá-lo e afirmar o óbvio, que ele é um problema a ser extirpado das relações, das instituições, da sociedade, é tarefa “para ontem”.
Neste sentido, vejo em certa medida com bons olhos a onda virtual de denúncias e desabafos de mulheres sobre #amigossecretos. Mesmo com seus limites, ajuda a colocar em evidência o que o movimento feminista sempre diz, e muita gente ainda duvida: nenhuma relação, pessoal ou política, pública ou privada, está isenta ou protegida de reproduzir machismo. E o patriarcado está presente também nas instituições: as mulheres não são subjugadas apenas em relações interindividuais. O patriarcado se enraiza nestes espaços institucionais e se manifesta por meio da discriminação, desvalorização, humilhação e mais uma infinidade de formas de violência contra mulheres. Para surpresa de muitos, tais manifestações têm agentes que dela de algum modo se beneficiam, isto é, a violência sexista (de todo tipo) é instrumento de poder. O “poder do macho”, como já dizia Saffioti.
Nosso inimigo declarado é o patriarcado, enovelado com o capitalismo e o racismo, e claro, ele somente se sustenta porque está enraizado e é reproduzido nas relações sociais – por indivíduos, notadamente homens. Alguns, queremos que sejam varridos da política, como Cunha, que está à frente da retirada dos nossos direitos por meio de projetos de lei misóginos (Estatuto do Nascituro, Estatuto da Família, PL 5069 que restringe o atendimento à vitimas de violência sexual, entre outros) – evidenciando que a despatriarcalização do Estado só começa com uma mudança estrutural do sistema político, por meio de uma constituinte. Ou como Alckmin, que queremos “fora” porque piora / corta serviços públicos, como fez com a água que ainda falta em muitas casas (sobrecarregando trabalho de mulheres) e agora com o infame fechamento de escolas estaduais.
Já de certos homens que reproduzem o patriarcado, existe uma expectativa e necessidade sobre os que se colocam como companheiros de luta, de vida: a de mudança de conduta, para que aí então construamos ombro a ombro, mulheres e homens, uma sociedade livre de exploração-opressão. Para que a posição subjugada das mulheres na sociedade seja desconstruída não em um futuro longínquo, mas desde já, mostrando que tipo de sociedade futura queremos construir. Mas de alguns outros homens, que nos tratam como “coisa” não humana que pode ser violentada, não podemos esperar pacientemente apenas uma mudança comportamental: queremos reparação e responsabilização.
A luta contra o patriarcado precisa de uma vez por todas ser entendida como central para revirar as estruturas desta sociedade e construir outra. E para isso é preciso muita reavaliação e mudança de postura/conduta individual por parte dos homens. É preciso muito fortalecimento individual das meninas e mulheres, para reconhecerem e identificarem quando sofrem violências de todo tipo, busquem ajuda e sejam acolhidas (onde é importante a solidariedade das mulheres e sensibilidade dos homens). E quando for o caso, que denunciem seus agressores não somente nas redes sociais. Mas mais do que tudo, é imprescindível que para além das ações individuais, que haja muita luta coletiva, autoorganizada pelas mulheres, em aliança com organizações mistas que de fato se comprometam com o feminismo. Precisamos ser maiores que nossos inimigos, que nossos desafios.
O feminismo tem muito a ensinar para a esquerda. “O pessoal é político” precisa ser de uma vez por todas digerido, assimilado e enfrentado. Essa explosão de denúncias expressa que a subjugação feminina pode parecer individual, mas é coletiva. A resistência também precisa ser. Já tem sido, muitas já se organizam e tomam as ruas na luta feminista. Mas é preciso ser maior, continuar florescendo e render frutos. Precisamos, mulheres, nos fortalecer enquanto sujeito coletivo, e a luta contra a violência sexista faz parte disso (Afinal, que sujeito transformador se constitui de mulheres em frangalhos?). Ajudemo-nos companheiras, juntas andamos melhor. Coletivamente, mudaremos o mundo e a vida das mulheres em um só movimento!
“Pisa ligeiro, pisa ligeiro! Quem não pode com as mulheres não atiça o formigueiro!
Pisa ligeiro, pisa ligeiro! Quem constrói o feminismo muda o país inteiro!”

* Thaís Lapa é militante do Núcleo ABC/SP da Marcha Mundial das Mulheres.

Nenhum comentário:

Postar um comentário