sexta-feira, 19 de julho de 2013

A ocupação e a nudez da incoerência


Por: Vanessa Gil*
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Ocupação da Câmara de Porto Alegre. Foto: Carlos Ferrari / Futura Press
Eu tinha jurado para mim mesma que não entraria novamente na polêmica do nu, não nu, protesta vestido, protesta pelado. E nem vou. Mas não posso deixar de trazer algumas reflexões sobre o caso da nudez na Câmara de Vereadores/as de Porto Alegre.
 Para quem não sabe, a Câmara de Porto Alegre foi ocupada pelo Bloco de Lutas pelo Transporte Público por mais de uma semana. Povo de luta, coisa linda de se ver. Num dos dias da ocupação,uma galera tirou a roupa como forma de protesto em frente a galeria de fotos localizada no saguão do prédio. A bancada conservadora foi à loucura e os jornais falaram disso por dias. Nas redes sociais o assunto continua rendendo.
 Contextualizado o acontecido, quero lembrar que recentemente escrevi um texto pro blog da Marcha Mundial das Mulheres do Rio Grande do Sul falando sobre o tema da nudez. Por isso, não preciso reforçar que não tenho, em essência, nenhum problema com a nudez para fins políticos, sexuais, libertários, seja lá pra que for. Apesar de ter achado desnecessário e de um profundo mau gosto utilizar uma foto da ex-vereadora e agora deputada Manuela D’Ávila no protesto. Qual era o objetivo mesmo? Assim, tenho resistência com a nudez quando, no lugar de trazer o debate da mercantilização do corpo, ela reforça o machismo. E isso é exatamente o que parece acontecer com o caso da foto e a reação ao discurso conservador que se seguiu.
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Detalhe da foto original de Ramiro Furquim.
A imprensa cumpre seu papel de aparelho ideológico, não vejo surpresa nisso. Imagino que quando decidimos tirar nossas roupas, fotografar e postar na internet, previamente calculamos que isso acontecerá e que a mídia nos chamará de vândalos/as, pornográficos/as, sem pudor, blá, blá, blá. Mas, sendo o objetivo final válido, devem ter, presumo eu, avaliado que essa era a melhor forma de levar o debate do aprisionamento dos corpos e da falsa moral burguesa para o debate público. E cada grupo tem suas táticas e estratégias que não nos cabe questionar. Tá pela esquerda? Apoiamos.
 Creio que tenhamos acordo acerca da conotação negativa que seria dada pela imprensa, que a bancada conservadora usaria isso para levantar a bandeira da moral e dos bons costumes. Mais do que isso, sabíamos que pessoas como o Valter Nagelstein, vereador do PMDB, hipócrita, falso moralista, usaria isso de forma deturpada e reacionária. Dessa forma, nós iríamos às redes sociais para denunciar a falsa moral do Valter, na sua condição de homem, né? Buscaríamos debater a partir das práticas incoerentes dele, não é? Isso mesmo, só que não.
 Todos os dias, tenho aberto as redes sociais e me deparado com as fotos da Playboy para a qual a esposa do vereador posou. Acompanhando as fotos estão textos indignados mostrando a incoerência do vereador que esculacha os manifestantes por sua nudez e não faz o mesmo com sua esposa. Infelizmente, o que estamos vendo, mais uma vez, é que a forma mais comum de ofender um homem, a mais eficiente, aquela que o patriarcado mais gosta, ofendendo a “mulher” do Valter, e dessa forma, ofendendo a honra do Valter.
 Não tem nada de errado nessa postura? Alguém ligou para a mulher que posou perguntando o que ela achou do nu no legislativo municipal, ou presumimos, como bons libertários(as) que somos que, obviamente, uma mulher sempre tem a mesma opinião do seu marido? Ou que, tendo ela a mesma opinião, podemos utilizá-la como desejarmos para ofender ao seu marido? Diante disso, vale reforçar: O MACHISMO NÃO NOS REPRESENTA!
 *Vanessa Gil – Socióloga e Militante da Marcha Mundial das Mulheres do Rio Grande do Sul.

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