segunda-feira, 12 de julho de 2010

O silêncio e a impunidade são cúmplices da violência

Outro mundo é possível: Sem violência contra as mulheres.

Esta semana nos deparamos com duas notícias sobre violência contra mulheres que nos causa indignação por serem atos de violência, mas que nos deixa perplexas pela naturalidade como são tratadas. O dois episódios ocorreram na região Sul e têm em comum o fato dos agressores serem pessoas que exercem atividades de poder social , político e econômico: um é técnico em enfermagem de rede pública de saúde conceituada, um adolescente filho de um dos proprietários da RBS, a maior rede de comunicação da região sul e o filho de um delegado de polícia.
O primeiro ocorrido em 30 de junho de 2010, numa clínica de gastroenterología, situada em Porto Alegre envolve um técnico de enfermagem . A vítima, que por medida de segurança pediu sigilo do seu nome, relatou que após o procedimento de endoscopia acordou da anestesia e percebeu que estava sendo “bulinada”. Neste momento, o estuprador informou que daria uma nova dose de remédio, para passar o efeito do sedativo, em seguida a vítima dormiu e quando acordou estava sem uma perna da calça, com a calcinha enrolada para o lado e ele saindo de cima dela.
O segundo, que trouxe à tona o estupro de uma menina de 13 anos, em Florianópolis, Santa Catarina, foi descoberto a partir da troca de mensagens entre dois adolescentes em um site de relacionamento da internet. O crime aconteceu há 40 dias, mas a confissão do jovem de 14 anos, suspeito de ser um dos estupradores, foi o estopim para a história se espalhar pela cidade.
O jovem, que confirmou o estupro pela internet, é filho de Sérgio Sirotsky, diretor da RBS (Rede Brasil Sul de Comunicação), que controla jornais, rádios e as emissoras de tevê afiliadas da Rede Globo em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Além dele, outros dois adolescentes, um filho de um delegado da cidade e outro não identificado também teriam participado do estupro.
A repercussão do caso levou a RBS a divulgar uma nota, dia 2 de julho, publicada nos jornais do grupo. Assinada pelo presidente emérito do grupo, Jayme Sirotsky, e pelo presidente da RBS, Nelson Sirotsky, a nota reconhece o envolvimento “em ocorrência policial” de um adolescente “membro da terceira geração da família” e “lamenta a forma irresponsável, maldosa e fantasiosa pela qual o episódio vem senso propagado, principalmente em alguns sites e blogs na internet”.
E por fim, mas não pra encerrar o assunto, o Sr. Nivaldo Rodrigues, diretor da Polícia Civil de Florianópolis declarou numa entrevista gravada que: "Eu não posso dizer que houve estupro. Houve conjunção carnal. Houve o ato. Agora, se foi consentido ou não, se foi na marra, ou não, eu não posso fazer esse comentário, porque eu não estava presente". Afinal, todas sabemos que é crime manter relações sexuais com menores e a legislação afirma que é “estupro presumido” mesmo que, não é o caso, tivesse sido consentido.
Diante disso, nós, organizações do movimento feminista, de movimentos sociais mistos vimos, por meio desta nota, manifestar nosso repúdio a todo e qualquer ato de violência contra as mulheres e exigir que as autoridades se empenhem na apuração dos acontecimentos e na punição dos responsáveis.
É deplorável que um homem com o poder que tem enquanto dono da RBS em vez de criticar a atitude de um membro de sua família que comete um estupro se preocupe em lamentar “a forma irresponsável, maldosa e fantasiosa pela qual o episódio vem senso propagado, principalmente em alguns sites e blogs na internet”.
É preocupante ver como os setores conservadores ao mesmo tempo em que se empenham para aprovar leis retrógadas como o estatuto do nascituro que, entre outras, proíbe o aborto em casos de estupro se mantém em silêncio sobre casos como estes.
Por isso:
Denunciamos o descaso das autoridades com a palavra das mulheres, deixando impune a violência contra as mulheres;
Denunciamos a violência sexista, a mercantilização do corpo das mulheres, além da exploração que os meios de comunicação comerciais fazem da imagem da mulher;
Exigimos que o Conselho Regional de Enfermagem se empenhe na apuração deste caso, e tome as medidas cabíveis para que outras mulheres não sejam violentadas e estupradas;
Exigimos que a Lei Maria da Penha e o Pacto Nacional pelo Fim da Violência Contra as Mulheres sejam efetivamente colocados em prática;
Exigimos que os governos e os judiciários atuem de forma incisiva e imparcial para prevenir e punir a violência contra as mulheres;
Marcharemos pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres.
Violência contra as mulheres: tolerância nenhuma!

SECRETARIA DA MULHER TRABALHADORA DA CUT
SECRETARIA DE MULHERES DA CUT/RS
MARCHA MUNDIAL DAS MULHERES/RS
Sindicato dos Bancários do RS
Federação dos Bancários do RS
Sintrajufe RS
Urgeirm RS
Simpe RS

Sidisepe RS

Um comentário:

  1. O CASO 'ELIZA SAMUDIO'
    E O MACHISMO TOTAL


    O caso Eliza Samudio
    Que tem chocado o Brasil
    Emerge como prelúdio
    De um grande desafio:
    Exortar nossa Justiça
    Pra deixar de ser omissa
    Ante o machismo tão vil!

    Trata-se de um momento
    De grande reflexão
    Pois não basta só lamento
    Ou alguma oração
    É hora de provocar
    Propondo um outro olhar
    Sobre processo e ação

    Saiu na televisão
    Rádio, internet e jornal
    Notícia em primeira mão
    Toda manchete é igual:
    Ex-amante de goleiro
    (Aquele cheio de dinheiro!)
    Sumiu sem deixar sinal

    Muita especulação
    - discurso de autoridade-
    Uns dizem que é armação
    Outros dizem que é verdade
    Polícia e delegacia
    Justiça e promotoria:
    Fogueira de vaidades!

    Mei-mundo de advogados
    Investigação global
    Cada um no seu quadrado
    Falando em todo canal
    Subjacente a tudo
    Um peixe muito graúdo:
    Androcentrismo total!


    p:s PARA LER O CORDEL NA ÍNTEGRA VISITE www.cordelirando.blogspot.com

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