sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Parada Livre de Porto Alegre avançou e se unificou novamente, mas onde estavam as lésbicas e bissexuais?

Cláudia Prates
Marilise Fróes
Silvana Klein
Militantes Marcha Mundial das Mulheres de Porto Alegre

Quando comemoramos a participação de milhares de pessoas novamente numa Parada Livre Unificada em Porto Alegre, temos que fazer uma análise para o retrocesso histórico de não conseguirmos expressar na prática uma proposta politizada para a Parada.
É possível fazermos esta afirmação, quando por exemplo, vemos que tanto as apresentadoras quanto as atrações artísticas eram voltadas para o público gay masculino. As apresentadoras se referiam aos “homens” o tempo todo, desconsiderando o público homossexual feminino presente.
Não é possível fazermos uma avaliação da organização da Parada, porque não participamos da mesma, mas era visível que as mulheres lésbicas e bissexuais não estavam presentes na programação e não foi respeitada a sua visibilidade. Isto nos remete a organização do evento, que mesmo sendo plural, nem sempre consegue garantir voz e o espaço para todos as entidades do movimento.
As mulheres foram salvas pela fala da Liga Brasileira de Lésbicas no palco, representando o movimento de mulheres. No resto, nada!
Esta invisibilidade das mulheres foi que motivou a existência do Dia da Visibilidade Lésbica, mas que ainda não é o suficiente, visto que a nossa cultura machista ainda não reconhece as mulheres, nem mesmo em um espaço em que a bandeira de luta é o direito à livre expressão sexual e de direitos de ambos os gêneros frente a uma sociedade homofóbica.
Quem esteve na Parada Livre de Porto Alegre deste ano perguntava se as gurias não iriam se organizar para o ano que vem – “Temos que fazer uma atividade só nossa”, diziam. Não que a segmentação favoreça ou fortalecimento do movimento gay, mas para que isso não ocorra e se consiga a unificação de fato, é preciso sim, fazer um debate político e de conscientização sobre o espaço das mulheres neste meio tão diverso, para com isso garantir a visibilidade e a presença das mulheres na Parada. Dizer somente que a Marcha das Lésbicas iria abrir a Parada Livre, como vimos, não garantiu em nada o espaço das mulheres, pelo contrário, reduziu e dispersou a participação das mesmas visto que o espaço não foi respeitado e tão pouco considerado.
Outra coisa que chocava era a falta de um debate politizado na Parada Livre. As entidades comprometidas com a sua organização, ou parte delas, demonstraram mais preocupação em garantir a diversão do público, do que focar na questão do debate político acerca do papel do movimento na sociedade e o respeito dessa com os homossexuais, transexuais, transgêneros e bissexuais.
Se apostou numa erotização dos indivíduos, garantindo-lhes uma pseuda liberdade de andar como bem queiram e fazer o que quiserem neste dia, como se isso fosse o suficiente para garantir o direito de ir e vir dos mesmos no dia-a-dia. Fato este presenciado no excesso de erotismo no palco vindo das apresentações das dezenas de drags, trans e travestis, e nas poucas falas de conscientização sobre o direitos desta população.
A Parada Livre não é só isto, ou ao menos deveria se preocupar em não ser só isso. Ela tem que, além de promover a diversão e a integração, desempenhar um papel de defesa e reafirmação dos direitos homossexuais, e isso não será conquistado apenas com desfiles, falas vazias e exibição de corpos atraentes ou não, que atendem a ditadura da estética.
Falar e ir contra o preconceito é ir além da exibição exagerada de corpos semi-nus e dar visibilidade à irreverência e alegria, para no palco, simplesmente “agitar” a galera. Perpassa por falas que exaltem os homossexuais em seus direitos, por serem cidadãos como os demais, que neste dia levam suas famílias para assistir a Parada Livre, mas nem todas com o proposito de ensinar às futuras gerações que devem respeitar os homossexuais. É com isto que se conquista a igualdade de direitos dentro da sociedade.
O resultado disto é que perdemos um tempo precioso e recursos escassos pra mostrar no palco o que as pessoas adoram ridicularizar, o que é lamentável, pois se trata de uma causa importante para ser negligenciada com a despolitização.
Está na hora de avaliar se, para o movimento á mais importante garantir milhões de pessoas em praça pública acenando, e muitos ridicularizando os participantes, ou se vale mais a pena aproveitar este momento para promover a conscientização da sociedade como um todo, para que a liberdade da expressão sexual ocorra de fato e não seja só fachada.

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